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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O canto junto ao instrumento solista

Marivone Lobo*

Ao longo de 16 anos tenho desenvolvido um trabalho juntamente com meu marido Sérgio Pereira num duo chamado Baixo e Voz. Por ser uma formação “diferente”, várias pessoas me perguntam como faço pra cantar só com um baixo, como não perco o ritmo, tonalidade etc. Mas não vejo diferença em cantar só com baixo ou só com violão ou só com piano... As exigências para se cantar numa formação em duo são as mesmas, independente do instrumento que acompanha a voz. A diferença está na escolha de repertório, arranjo, interpretação e utilização da técnica apropriada.
No meu caso, a escolha do repertório é a primeira questão que levamos em consideração. Existem músicas que amo ouvir e cantar, mas que não se encaixam no perfil do Baixo e Voz. Sempre levamos em conta o que podemos acrescentar à canção, como enriquecê-la e dar a nossa versão, a nossa “cara”.
Definido o repertório, o próximo passo é a confecção do arranjo. O instrumentista pensa primeiramente na melodia e, a partir dela desenvolve todo o arranjo, podendo muitas vezes deixá-la totalmente diferente da sua harmonia original. Mas todas as mudanças privilegiam a melodia sem que isso limite o potencial criativo do arranjador.
Entretanto, muitas vezes só sabemos se tudo saiu como queríamos quando estamos no palco, tocando ao vivo. Aí entra outro fator importante: a interpretação. E é nessa hora que a técnica vocal e instrumental devem fazer uma ótima parceria. A interpretação está muito ligada com a emoção. Quando se consegue juntar técnica e emoção, dá-se o casamento perfeito! O músico que exagera em um ou outro fator ultrapassa a própria música e transfere toda a atenção para ele; a música passa para o segundo plano. Nos melhores shows que tive oportunidade de assistir percebi que todos que estavam no palco procuravam servir a música e não apenas servir-se dela!
Portanto, acredito que seja indispensável para o músico desenvolver a técnica no seu instrumento, ficar por dentro das novidades, livros, métodos e tudo que possa acrescentar à sua carreira como músico sem esquecer que, nós, músicos, temos o privilégio de utilizar uma das mais belas artes para expressar aquilo que pensamos, fazemos e acreditamos. E não importa se fazemos isso sozinho, em duos, trios, quartetos...





*Marivone Lobo é cantora, professora de técnica vocal e arranjadora. Faz parte do duo Baixo & Voz que conta com três CDS gravados. Formada em Música Popular pela Universidade de Ribeirão Preto. Tem uma apostila escrita chamada “Técnica Vocal para Iniciantes”, à venda no site
www.baixoevoz.com.br.